A Ghost Story(2017)- Uma pequena análise+crítica

A Ghost Story(2017)- Uma pequena análise+crítica

E vamos lá para mais um textinho humilde meu(que sempre são uma merda, mas prometo melhorar um dia) sobre o melhor filme de 2017: A Ghost Story. [HAVERÁ SPOILERS]
É um pouco difícil analisar esse filme, quando o mesmo irá fazer com que diversas pessoas enxerguem de uma ou diversas formas as abordagens presentes na trama. Luto, dor, amor, existência, apego, tempo, etc. Mas acho que o principal seja a existência, devido a sensação onírica e não muito bem localizada para o telespectador, apesar de existir inúmeros locais cenográficos.
Aqui vai uma frase da Rooney Mara(a primeira frase do filme ao se iniciar) que vai ajudar um pouco a esclarecer a dúvida que todos tem ao terminar o filme: ''Quando era criança, nós nos mudávamos muito e eu escrevia esses bilhetes, e os dobrava bem pequenininhos. Então os escondia em lugares diferentes, para que se um dia voltasse, houvesse uma parte de mim esperando''.
Essa frase praticamente resume e dá um flashforward em forma de frase, nos remetendo á cena final(que é linda, mas chegarei lá em breve).
As diversas cenas extensas demais nos dá um senso de realismo e de cotidiano extremamente simples e crível(mas que pouca gente percebe sua importância pro roteiro). Nós fazendo ver cenas longas dos dois se abraçando na cama, criando assim um relacionamento que, mesmo no silêncio do filme, se torna muito consistente sem precisar de um background de como se conheceram ou á quanto tempo se conhecem. A gente compra a ideia facilmente de que eles se amam muito.
Ao decorrer de algumas cenas que introduzimos ao início do luto de Rooney Mara ao perder o marido, temos a famosa cena da torta, onde temos uma cena de 6 minutos silenciosa dela apenas comendo uma torta. É angustiante, e sem diálogos algum, Rooney consegue passar pra nós a negação que ela sente em não acreditar que o marido esteja morto, devorando aquela torta como se não houvesse um amanhã. Como se 'descontasse' sua tristeza na comida.
O uso da trilha sonora é pontual demais e constante, para nós criar uma sensação de choque de mundos e visões. O fato do marido de Rooney transitar como um fantasma mas ninguém perceber sua existência, e da Rooney estar tentando ter seu cotidiano de volta sem o amor de sua vida.
Depois de algumas cenas, temos uma que faz com que lembrássemos que o fantasminha foi muito humano e ainda ama Rooney. Ele, sentado no sofá, recebe a visita de um homem junto a Rooney. Ela agora estava numa intimidade e beijando outro homem, e por apenas a atuação corporal do Casey Affleck(o marido/fantasma) vemos que é doloroso ele ver que a vida de sua amada e viúva esposa tem que seguir, e isso floresce intensamente a cada segundo. É silencioso, vemos apenas um pano, mas é sufocante graças á mixagem de som, fotografia e de certa forma, a atuação de Casey.
Depois de uma maior aceitação de sua vida, a personagem de Rooney decide se mudar de casa e vemos o ex-marido fantasma continuar na residência. Ele estaria preso ali ou resolveu ficar?
Logo após a saída dela, o marido percebe que já tem novos habitantes adentrando a casa como se já morassem ali há um tempo. E é aí que vemos uma pequena quebra no conceito linear que temos automaticamente ao ver um filme. Não sabemos se aquelas pessoas vieram morar depois, ou são antigos habitantes. E após uns minutos de filme, parecem não morar mais. Temos uma cena curiosa do Casey/fantasminha tentar procurar algo entre as paredes, mas sua ação é interrompida por barulhos em outros locais da casa, e vemos mais uma vez esse salto temporal. Agora para uma festa acontecendo. E temos numa mesa de conversa na sala da casa um diálogo, seguido por um monólogo, genial por assuntos externos ao que estávamos vendo, mas que conversa diretamente ao cerna da história. Teria sido perigoso deixar tudo muito expositivo e desconexo esse monólogo, mas é tão palpável e simples, que é como se estivéssemos no meio da roda de conversa, e tudo aquilo confortasse as possíveis dúvidas que estaríamos tendo pra vida do marido fantasma. Um monólogo simples, mas profundo demais sobre: tempo, amor, recordação, vida, morte, memória, sobre o valor que temos enquanto vivos, e o quanto lutamos para que nossa existência tenha algum significado após morrermos, pois isso nos traria um conforto antes de irmos. Saber que fomos reconhecidos, saber que nossa existência teve um valor para alguém ou para milhares. Mesmo que não saberemos de fato, porque estaremos mortos. Mas essa decepção que também não teremos ao falecermos, faz com que a vida de cada um tenha uma importância por si só, enxerguemos ou não.
Depois disso tudo temos outro salto temporal, o marido fantasma ainda tenta furar a parede para pegar algo, mas é impedido por diversos tratores que estavam destruindo boa parte da casa. E mais uma vez, não sabemos quando se passa aquela cena, e o fantasma segue numa aventura silenciosa para diversos locais da cidade. E ai vemos a fotografia brilhar ainda mais do que já estava antes. Cada cena é uma pintura maravilhosa. Vemos também que o fantasma segue uma linha de saltos temporais, o tornando cada vez mais confuso de que época está vivendo o por quê.
Até seguirmos próximo ao fim do filme, onde esse fantasma que acompanhávamos o filme todo, retorna para sua casa. Ela estaria intacta e sua esposa aparece(um salto temporal será?). Mas vemos que é um flashback de quando ele era vivo e ainda podia abraçar sua esposa. Ele parecia ter aceitado sua não existência, e a câmera vira e vemos que existe outro fantasma olhando para janela(exatamente como ele fazia em diversas cenas do filme), seria ele mesmo ou outra pessoa? Livre interpretação.
Vemos então ele se levantar e ir em direção a parede que ele tanto arranhava. A música se intensifica constantemente, e nela há um tom de liberdade, segurança e paz. Talvez a paz que ambos protagonistas buscavam. Um vivo e outro morto.
Ele então pega o bilhete de dentro da parede, vemos que ele dá uma lida nele e então o pano simplesmente desce pro chão, numa cena fantástica e linda. O personagem havia ido, havia se liberto de sua negação que a existência sua foi simples e, aparentemente rápida pro tempo em que existe a humanidade.
Muitos questionam o que de fato estava escrito no bilhete com que fizesse ele sumir do mundo, mas acho que não importa de fato. Podemos ter milhares de interpretações(o que é ótimo), mas acho que o melhor é simplesmente vermos que, aquela frase do início do texto que citei do filme, fez com que o marido fantasma sentisse mais uma vez apenas que havia uma parte de seu maior amor esperando por ele. Tanto no tempo, no local e na vida.

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