Antiporno(2016)- Crítica
Meu texto sobre o filme
'Antiporno'(2016) e a ''venda'' irônica da liberdade feminina.
"Eu pego a liberdade que nos restringem, jogo no vaso e dou descarga"
Talvez o filme do Sion Sono com maior carga metafórica presente por toda sua narrativa. As metáforas são fáceis, praticamente explícitas por suas cenas e diálogos, extremamente válidas e ótimas. Mas que por sua vez, é ''meio'' pessimista em relação á essa 'venda' da imagem feminina pelo mundo(mesmo sentindo um peso maior no contexto japonês, por que né, o diretor é japonês).
Ao contrário do que pode parecer a princípio(por conta do nome) o filme não é uma espécie de manifesto contra a industria pornográfica, não que isso exclua algum tipo de interpretação dessa forma com critérios baseados no que foi apresentado no longa. Mas o filme se utiliza um pouco dessa conjuntura, mas que vou evitar um pouco contar sobre esse primeiro ato porque há um plot twist que só Sion Sono consegue fazer. Porém, acho que o filme parte mais em nos mostrar a imagem feminina sendo vendida de maneira incongruente pelo mundo, e talvez essa visão de Sion Sono seja mais pessimista sobre a figura feminina no mundo de hoje.
*SINOPSE: Kyoko é uma artista que se fecha num quarto pintado em cores brilhantes. Ela executa sua agenda minuto a minuto. E na programação de Kyoko, o relacionamento sádico com sua assistente, gradualmente converte-se num labirinto psico-sexual vertiginoso.*
A personagem Kyoko é nos apresentada num quarto onde as cores são únicas e vibrantes a cada lugara a sua volta. Cores fortes. Amarelo para o chão e nas paredes próximas á suíte, lençol da cama inteiramente azul marinho forte, e seu banheiro(presente na foto ai que escolhi pro texto) é composta por apenas um vermelho fortíssimo. A paleta de cores foi precisa e há uma importância gigantesca pro estudo de personagem e suas metáforas, junto a fotografia MARAVILHOSA. E à sua personalidade, Kyoko parece ser uma mulher realmente independente, uma artista única, sisuda e importante.
Mas vemos que a personagem sofre de alguns surtos temporários, principalmente quando se vê em um reflexo. Fazendo com que ela discuta(sozinha e contra outra personagem) coisas aparentemente desconexas com o que estamos vendo no longa, e autoproclamando-se uma 'puta' com orgulho. Como de costume nos filmes desse diretor, o clima começa calmo, mas com um ar já de bizarrice que pode estar prestes a nos dar a cara a qualquer hora. E é o que acontece, e com a magistral direção de Sono. Nesse quarto há algumas particularidades, e a qual quero destacar é o lagarto dentro de uma garrafa, onde a Kyoko comenta sobre ser impossível ele sair de lá um dia(guardem essa informação).
O roteiro vai se tornando cada vez mais ousado com a aparição e distorção de novos personagens. E isso é muito genial. Mas já avisando que há cenas inusitadas e bizarras no primeiro ato, que logo após no plot twist são esclarecidas totalmente. Principalmente as cenas da Kyoko humilhando sua assistente de diversas formas diferentes. E aí é outro ponto que é a base dessa mensagem que Sono que nos passar. A falta dessa sororidade nas relações pessoais, de trabalho e social.
O filme pode se tornar mais autoral pela inserção de um momento chave no filme: a conversa na mesa de jantar da família de Kyoko quando mais jovem. Ao estar ao lado de sua irmã, Kyoko pergunta ao seus pais sobre sua genitália e se nela um dia terá de entrar uma outra genitália masculinas, assim como soube há pouco tempo na escola e pelos filmes. A conversa é seca, estranha e não uso algum de palavras inapropriadas(o que até então não era nada comum, devido ao texto ''anárquico'' que o filme possuía o tempo todo). É uma conversa tipicamente oriental-conservadora sobre relacionamento, corpo e desejo sexual. O que não é uma novidade de que no oriente há um peso e manta maior sobre esse tipo de assunto, em específico no filme: o Japão.
Após essa conversa na mesa, o filme entra em rupturas de cenas e mais cenas onde mostra Kyoko mais confusa sobre alguma coisa, e parece sofrer com algum tipo de opressão invisível. Perfeita alusão ao como o Japão(e boa parte do mundo) via e agora ''vende'' a imagem do feminino. Uma transição estranha da: supervalorização da virgindade para a hipersexualização da mulher.
''A falsa liberdade de expressão desta nação não passa de um monte de merda...a liberdade...atormentou as mulheres dessa nação. Enganadas pela liberdade, elas louvam a liberdade de expressão, mas nenhuma delas pode dominá-la. Servas da liberdade, escravas da liberdade, fantoches da liberdade...''
A cena final é visualmente magnífica, mas sufocante para aqueles que entenderem as pequenas frases de Kyoko, que ao se esfregar e rastejar em baldes e mais baldes de tintas jogadas no chão de seu quarto, grita: ''UMA SAÍDA! UMA SAÍDA! EU QUERO UMA SAÍDA! ME DÊ UMA SAÍDA!!''. Perfeita construção da ideia de falsa liberdade que as mulheres estão tendo nos dias atuais. Talvez uma mais uma ideia bizarra do diretor, ou uma construção cinematográfica de alguns ideias do feminismo radical digerido no pessimismo. E o último take do filme, é do lagarto preso na garrafa colocando apenas a língua para fora do gargalo, pois é a única liberdade que ele conseguira ter da garrafa.
Um filme manipulativo, bizarro, visualmente magnífico, metafórico e estonteante de alusões e ideias. RECOMENDADÍSSIMO!
Observação pra foto que usei pro texto outra vez: Kyoko confusa sobre sua felicidade e liberdade enquadrada juntamente a um pássaro engaiolado.
nota: 9 /10
"Eu pego a liberdade que nos restringem, jogo no vaso e dou descarga"
Talvez o filme do Sion Sono com maior carga metafórica presente por toda sua narrativa. As metáforas são fáceis, praticamente explícitas por suas cenas e diálogos, extremamente válidas e ótimas. Mas que por sua vez, é ''meio'' pessimista em relação á essa 'venda' da imagem feminina pelo mundo(mesmo sentindo um peso maior no contexto japonês, por que né, o diretor é japonês).
Ao contrário do que pode parecer a princípio(por conta do nome) o filme não é uma espécie de manifesto contra a industria pornográfica, não que isso exclua algum tipo de interpretação dessa forma com critérios baseados no que foi apresentado no longa. Mas o filme se utiliza um pouco dessa conjuntura, mas que vou evitar um pouco contar sobre esse primeiro ato porque há um plot twist que só Sion Sono consegue fazer. Porém, acho que o filme parte mais em nos mostrar a imagem feminina sendo vendida de maneira incongruente pelo mundo, e talvez essa visão de Sion Sono seja mais pessimista sobre a figura feminina no mundo de hoje.
*SINOPSE: Kyoko é uma artista que se fecha num quarto pintado em cores brilhantes. Ela executa sua agenda minuto a minuto. E na programação de Kyoko, o relacionamento sádico com sua assistente, gradualmente converte-se num labirinto psico-sexual vertiginoso.*
A personagem Kyoko é nos apresentada num quarto onde as cores são únicas e vibrantes a cada lugara a sua volta. Cores fortes. Amarelo para o chão e nas paredes próximas á suíte, lençol da cama inteiramente azul marinho forte, e seu banheiro(presente na foto ai que escolhi pro texto) é composta por apenas um vermelho fortíssimo. A paleta de cores foi precisa e há uma importância gigantesca pro estudo de personagem e suas metáforas, junto a fotografia MARAVILHOSA. E à sua personalidade, Kyoko parece ser uma mulher realmente independente, uma artista única, sisuda e importante.
Mas vemos que a personagem sofre de alguns surtos temporários, principalmente quando se vê em um reflexo. Fazendo com que ela discuta(sozinha e contra outra personagem) coisas aparentemente desconexas com o que estamos vendo no longa, e autoproclamando-se uma 'puta' com orgulho. Como de costume nos filmes desse diretor, o clima começa calmo, mas com um ar já de bizarrice que pode estar prestes a nos dar a cara a qualquer hora. E é o que acontece, e com a magistral direção de Sono. Nesse quarto há algumas particularidades, e a qual quero destacar é o lagarto dentro de uma garrafa, onde a Kyoko comenta sobre ser impossível ele sair de lá um dia(guardem essa informação).
O roteiro vai se tornando cada vez mais ousado com a aparição e distorção de novos personagens. E isso é muito genial. Mas já avisando que há cenas inusitadas e bizarras no primeiro ato, que logo após no plot twist são esclarecidas totalmente. Principalmente as cenas da Kyoko humilhando sua assistente de diversas formas diferentes. E aí é outro ponto que é a base dessa mensagem que Sono que nos passar. A falta dessa sororidade nas relações pessoais, de trabalho e social.
O filme pode se tornar mais autoral pela inserção de um momento chave no filme: a conversa na mesa de jantar da família de Kyoko quando mais jovem. Ao estar ao lado de sua irmã, Kyoko pergunta ao seus pais sobre sua genitália e se nela um dia terá de entrar uma outra genitália masculinas, assim como soube há pouco tempo na escola e pelos filmes. A conversa é seca, estranha e não uso algum de palavras inapropriadas(o que até então não era nada comum, devido ao texto ''anárquico'' que o filme possuía o tempo todo). É uma conversa tipicamente oriental-conservadora sobre relacionamento, corpo e desejo sexual. O que não é uma novidade de que no oriente há um peso e manta maior sobre esse tipo de assunto, em específico no filme: o Japão.
Após essa conversa na mesa, o filme entra em rupturas de cenas e mais cenas onde mostra Kyoko mais confusa sobre alguma coisa, e parece sofrer com algum tipo de opressão invisível. Perfeita alusão ao como o Japão(e boa parte do mundo) via e agora ''vende'' a imagem do feminino. Uma transição estranha da: supervalorização da virgindade para a hipersexualização da mulher.
''A falsa liberdade de expressão desta nação não passa de um monte de merda...a liberdade...atormentou as mulheres dessa nação. Enganadas pela liberdade, elas louvam a liberdade de expressão, mas nenhuma delas pode dominá-la. Servas da liberdade, escravas da liberdade, fantoches da liberdade...''
A cena final é visualmente magnífica, mas sufocante para aqueles que entenderem as pequenas frases de Kyoko, que ao se esfregar e rastejar em baldes e mais baldes de tintas jogadas no chão de seu quarto, grita: ''UMA SAÍDA! UMA SAÍDA! EU QUERO UMA SAÍDA! ME DÊ UMA SAÍDA!!''. Perfeita construção da ideia de falsa liberdade que as mulheres estão tendo nos dias atuais. Talvez uma mais uma ideia bizarra do diretor, ou uma construção cinematográfica de alguns ideias do feminismo radical digerido no pessimismo. E o último take do filme, é do lagarto preso na garrafa colocando apenas a língua para fora do gargalo, pois é a única liberdade que ele conseguira ter da garrafa.
Um filme manipulativo, bizarro, visualmente magnífico, metafórico e estonteante de alusões e ideias. RECOMENDADÍSSIMO!
Observação pra foto que usei pro texto outra vez: Kyoko confusa sobre sua felicidade e liberdade enquadrada juntamente a um pássaro engaiolado.
nota: 9 /10
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