Casa Vazia(2004)- Crítica

Casa Vazia(2004)- Crítica

Kim Ki-duk é um diretor que sabe fazer cinema em sua pura forma. Diálogos necessários ao extremo e bem escritos; detalhes, que por mais que pareçam vazios e passem abatidos, possuem uma enorme importância e relevo no todo; e o que eu mais destaco quando comento sobre sua filmografia: o impacto que as cenas(muitas vezes as finais) tem sobre o telespectador, e a maneira poética e sempre imprevisível do assunto/temática que o enredo tratou a dizer. E nessa obra-prima vemos um espetáculo de camadas temáticas e subtextos: solidão, amor, desapego, liberdade, desejo, insatisfação, e, flertando também em sua conclusão, com a teoria do eterno retor de Nietzsche.
*SINOPSE: Um jovem vagabundo invade a casa de estranhos e mora nelas enquanto os donos estão fora. Para pagar a estadia ele realiza pequenos consertos ou faz limpeza na casa. Ele costuma ficar um ou dois dias em cada lugar, trocando de casa constantemente. Até que um dia encontra uma bela mulher em uma mansão, que assim como ele também está tentando escapar da vida que leva.*
O filme possuí, aparentemente, os primeiros 15 minutos mais descompromissados que talvez você vá ver em um filme. Um cara que entra em casas, onde seus donos não estão por algum motivo, e lá vive durante horas. Mas nunca rouba ou destrói algo, sempre fazendo compra pros mesmos, lavando suas roupas, limpando a casa e tirando umas fotos com alguns pertences da residência. Até ele conhecer uma mulher que levava um relacionamento abusivo com um marido, ao errar pensando que a casa estava vazia. A jovem então acompanha o rapaz nesse cotidiano maluco de entrar em casas, e fazer o mesmo que o rapaz sempre fez anteriormente.
A trilha sonora é praticamente nula o filme todo, a não ser em duas cenas: o momento do encontro do rapaz com a moça, e a cena final(que é belíssima, diga-se de passagem). E a falta da trilha contribuiu com o senso de monotonia que ambos personagens levavam consigo mesmo, mas não em suas vidas e cotidiano, mas dentro de deles. Aqui nesse filme as cenas falam mais alto do que os diálogos. Não é preciso os personagens terem um texto expositivo do que estão sentindo, do que querem ou o que pensam. As atuações e a direção fala por eles, e eu nunca vi isso ser tão bem executado quanto nesse filme. A gente LÊ a mente de cada personagem apenas assistindo boa parte de suas ações. Sabemos o que eles querem, o que eles buscam e como se sentem.
A fotografia busca se manter em filtros azuis, esverdeados e em tons sépias em momentos intimistas dos personagens, contornando a busca de ambos pela felicidade.
Reforço a inclusão da teoria do eterno retorno de Nietzsche, pois há um hobbie do protagonista muito desconexo e até mesmo surreal, que é algumas cenas onde o mesmo prende uma bola de golfe num arco de arame, e o prende em um pilar ou árvore, e em seguida bate na mesma como se estivesse num jogo de golfe. Mas a bola obviamente não sai do lugar, ela da um 360 e para no mesmo local. Pois, o que nós queremos, queremos por incontáveis vezes? Isso nunca cabe a nós, é algo além do metafísico diria Nietzsche. Tudo, exatamente tudo, vai e retorna: saúde e doença, criação e destruição, alegria e tristeza, bem e mal. Se tudo isso que disse retorna, e não cabe a nós essa decisão, queremos mesmo viver num labirinto circular onde nada de novo pode acontecer, além de detalhes variados de uma mesma experiência já conhecida por nós da realidade, por qualquer meio que seja?? Mas apenas você poderá responder isso, e não há momento para essa resposta vir.
UMA OBRA-PRIMA DO CINEMA!!!!

nota: 10 /10

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