Ninfomaníaca Vol.1(2013)- Crítica
Lars
Von Trier possuí um conjunto de obras-primas: Melancholia, Anticristo,
Dogville, Ondas do Destino, Manderlay, Dançando no Escuro, Os Idiotas, Elemento
de um Crime; e, talvez o mais polêmico, Ninfomaníaca, que também não deve ser
esquecido.
Talvez essa polêmica toda que citei agora há pouco seja por simplesmente ignorância pura. Ao escutar que os ''destaques'' do filme(que caem fácil na boca do povo)são cenas de sexos meio chocantes por serem quase explícitas, as mesmas já a julgam como simplesmente uma obra ''pornográfica''. O que é no mínimo ridículo, sendo que o maior destaque pra mim aqui tem que ser os diálogos que são geniais. Mas se toda arte precisa de uma realidade e da vida que influencie na construção de uma obra, por quê o sexo(que também faz parte da vida) é tão julgado ao ser usado como artifício pra se contar uma história?? Mas ok, vamos lá para o que interessa.
Ao contrário do que o senso comum em volta pode achar, Ninfomaníaca é uma obra pesada, densa, com inúmeras alegorias e simbolismos a outras formas de arte(quadros, música, literatura, esculturas,etc), matemática, história e até mesmo religiões(Lars Von Trier tem um senso ácido para criticar o cristianismo, e todos argumentos dele são válidos). A trama nos segue com a história de Joe, uma mulher que é encontrada toda machucada num beco por Seligman. O senhor ao querer ajudar, leva a mulher pra sua casa num quarto de hóspedes, onde, após cuidar dos ferimentos e lhe oferecer água e comida, Joe resolve contar boa parte da sua vida até aquele momento que fora encontrada machucada, assim Seligman a entenderia.
A partir daí conferimos segmentos da vida de Joe, desde quando criança, na adolescência, até chegarmos na adulta em que é, nos mostrando a ascensão de sua descoberta sexual e declínio social e pessoal que a consome. Joe revela a Seligman que sempre se achou uma pecadora por descobrir os prazeres carnais desde que era apenas uma criança. O conceito de pecado, cujo o cristianismo mais se utilizou e estilizou, sempre sufocou e reprimiu os desejos de Joe. O que não foi muito diferente durante toda a história da humanidade contra as mulheres, e até mesmo hoje em dia. E esse tipo de crítica é especialmente recorrente em outras obras do diretor também, como em Melancholia e Anticristo.
Joe numa segunda história a Seligman conta que, quando já adolescente, fazia apostas com uma amiga de quem conseguia ter mais relações sexuais dentro de um trem. Parece absurdo, insurgente ridículo, mas segurem essa informação aí. Todas as cenas segue num ritmo dinâmico e com uma trilha sonora que toma conta de todo o clímax e intencionalidade das garotas. Até que no fim dessa história, Joe nos conta que o fim da aposta era dela conseguir fazer sexo com um homem casado no último vagão, que sempre resistia as tentativas de Joe. Até que vemos praticamente a Joe estuprando o senhor, que é muito bizarro a cena.
A narrativa das histórias do passado de Joe continuam, e é revelado até mesmo que fez parte de um ''culto'' de mulheres que tinham um objetivo principal de acabar com a ideia e princípio social do amor fixo. Elas também se encontravam para partilhar suas histórias, como uma espécie de AA. O fato seguinte que foi o estopim pra vida de Joe ter sido aterradora dai pra frente. Na entrada de seu primeiro emprego, ela logo se apaixona pelo seu chefe, e isso afetou imensamente sua vida e até mesmo sua saúde a partir daí. Vemos então o começo da entrada das consequências desse vício sexual que ela tinha, e isso afetava-a como um vício em drogas, em cigarros, bebidas,etc. Tudo aquilo a entristecia, e angustiava-a muito saber que seu vício era aquém a ideia de estar num relacionamento com uma pessoa apenas. Ela sentia o peso das possíveis ''críticas'' que poderiam ser ouvidas futuramente a respeito dela. ''A puta'', ''promíscua'', etc.
Logo em seguida vemos uma das cenas mais marcantes e tensas do primeiro filme, um encontro de família onde vemos uma BRILHANTE E SIMPLESMENTE GENIAL atuação da atriz Uma Thurman como a mãe de Joe, que ao descobrir dessa vida às escuras da filha e também da traição por parte de seu marido, começa-a menosprezar e brigar com ambos durante o jantar, enquanto põe á mesa também todas as vezes e vidas em que sua filha pode ter destruído. E é uma cena teatral e perfeita, com um show de atuação da Uma Thurman e Stacy Martin(a Joe adolescente).
E já perto do fim do terceiro ato do filme tem uma cena que me fez chorar(e muito), e é o que resume a ideia cerne que comentei nesse texto. Que é quando vemos o pai da Joe(que é nos apresentado como o único personagem que a amava de verdade, mesmo que com um amor paterno apenas) estando em um estado crítico de saúde, e Joe ao não saber lidar com a possível perda do pai, resolve se deslocar daquela realidade. Assim como um alcoólatra, um viciado em drogas... E essa cena é muito, mas muito pesada, crua e triste.
E há uma frase muito incrível também perto do final, que é num reencontro não-planejado da antiga amiga dela com Joe. Sua amiga parecia ter sido curada daquela doença. Mas ao ver que Joe permanecia naquela rotina viciada, solta uma frase que é uma das mais marcantes da obra: ''Você acha que sabe tudo sobre o sexo. O ingrediente secreto para o sexo é o amor...''. Que se contradiz com toda nossa forma cultural de lidarmos com a sexualidade, e ainda mais se for partido da mulher. Lembra que comentei dela fazer apostas sexuais num trem? Seria de um absurdismo, apesar de sabermos que é comum, gigantesco se a história fosse com um homem. Talvez o absurdo se apagaria pelo fato de já ser comum atitudes dessas serem deploráveis com homens, mas porque nos parece tão absurdo se a protagonista desses atos é uma mulher? Assim como é incomodante pra muito gente ainda simplesmente ver mulheres falando sobre sexo. Um taboo fortemente incoerente sustentado por muita gente ainda.
E o fim do filme se segue com inúmeras aventuras sexuais da personagem, até que em uma noite ela diz que não conseguia sentir mais sua vagina, e caí no desespero e num choro amargurado nos últimos segundos de filme.
Com um final seco, cru, forte e intenso, temos ai o fim do Ninfomaníaca 1. E mais uma vez, outra obra-prima de Von Trier que nunca deverá ser esquecida por ser tecnicamente impecável, e por tocar em feridas nunca dantes tocadas em filme de maneira tão sincera e única. UM FILMAÇO!
Talvez essa polêmica toda que citei agora há pouco seja por simplesmente ignorância pura. Ao escutar que os ''destaques'' do filme(que caem fácil na boca do povo)são cenas de sexos meio chocantes por serem quase explícitas, as mesmas já a julgam como simplesmente uma obra ''pornográfica''. O que é no mínimo ridículo, sendo que o maior destaque pra mim aqui tem que ser os diálogos que são geniais. Mas se toda arte precisa de uma realidade e da vida que influencie na construção de uma obra, por quê o sexo(que também faz parte da vida) é tão julgado ao ser usado como artifício pra se contar uma história?? Mas ok, vamos lá para o que interessa.
Ao contrário do que o senso comum em volta pode achar, Ninfomaníaca é uma obra pesada, densa, com inúmeras alegorias e simbolismos a outras formas de arte(quadros, música, literatura, esculturas,etc), matemática, história e até mesmo religiões(Lars Von Trier tem um senso ácido para criticar o cristianismo, e todos argumentos dele são válidos). A trama nos segue com a história de Joe, uma mulher que é encontrada toda machucada num beco por Seligman. O senhor ao querer ajudar, leva a mulher pra sua casa num quarto de hóspedes, onde, após cuidar dos ferimentos e lhe oferecer água e comida, Joe resolve contar boa parte da sua vida até aquele momento que fora encontrada machucada, assim Seligman a entenderia.
A partir daí conferimos segmentos da vida de Joe, desde quando criança, na adolescência, até chegarmos na adulta em que é, nos mostrando a ascensão de sua descoberta sexual e declínio social e pessoal que a consome. Joe revela a Seligman que sempre se achou uma pecadora por descobrir os prazeres carnais desde que era apenas uma criança. O conceito de pecado, cujo o cristianismo mais se utilizou e estilizou, sempre sufocou e reprimiu os desejos de Joe. O que não foi muito diferente durante toda a história da humanidade contra as mulheres, e até mesmo hoje em dia. E esse tipo de crítica é especialmente recorrente em outras obras do diretor também, como em Melancholia e Anticristo.
Joe numa segunda história a Seligman conta que, quando já adolescente, fazia apostas com uma amiga de quem conseguia ter mais relações sexuais dentro de um trem. Parece absurdo, insurgente ridículo, mas segurem essa informação aí. Todas as cenas segue num ritmo dinâmico e com uma trilha sonora que toma conta de todo o clímax e intencionalidade das garotas. Até que no fim dessa história, Joe nos conta que o fim da aposta era dela conseguir fazer sexo com um homem casado no último vagão, que sempre resistia as tentativas de Joe. Até que vemos praticamente a Joe estuprando o senhor, que é muito bizarro a cena.
A narrativa das histórias do passado de Joe continuam, e é revelado até mesmo que fez parte de um ''culto'' de mulheres que tinham um objetivo principal de acabar com a ideia e princípio social do amor fixo. Elas também se encontravam para partilhar suas histórias, como uma espécie de AA. O fato seguinte que foi o estopim pra vida de Joe ter sido aterradora dai pra frente. Na entrada de seu primeiro emprego, ela logo se apaixona pelo seu chefe, e isso afetou imensamente sua vida e até mesmo sua saúde a partir daí. Vemos então o começo da entrada das consequências desse vício sexual que ela tinha, e isso afetava-a como um vício em drogas, em cigarros, bebidas,etc. Tudo aquilo a entristecia, e angustiava-a muito saber que seu vício era aquém a ideia de estar num relacionamento com uma pessoa apenas. Ela sentia o peso das possíveis ''críticas'' que poderiam ser ouvidas futuramente a respeito dela. ''A puta'', ''promíscua'', etc.
Logo em seguida vemos uma das cenas mais marcantes e tensas do primeiro filme, um encontro de família onde vemos uma BRILHANTE E SIMPLESMENTE GENIAL atuação da atriz Uma Thurman como a mãe de Joe, que ao descobrir dessa vida às escuras da filha e também da traição por parte de seu marido, começa-a menosprezar e brigar com ambos durante o jantar, enquanto põe á mesa também todas as vezes e vidas em que sua filha pode ter destruído. E é uma cena teatral e perfeita, com um show de atuação da Uma Thurman e Stacy Martin(a Joe adolescente).
E já perto do fim do terceiro ato do filme tem uma cena que me fez chorar(e muito), e é o que resume a ideia cerne que comentei nesse texto. Que é quando vemos o pai da Joe(que é nos apresentado como o único personagem que a amava de verdade, mesmo que com um amor paterno apenas) estando em um estado crítico de saúde, e Joe ao não saber lidar com a possível perda do pai, resolve se deslocar daquela realidade. Assim como um alcoólatra, um viciado em drogas... E essa cena é muito, mas muito pesada, crua e triste.
E há uma frase muito incrível também perto do final, que é num reencontro não-planejado da antiga amiga dela com Joe. Sua amiga parecia ter sido curada daquela doença. Mas ao ver que Joe permanecia naquela rotina viciada, solta uma frase que é uma das mais marcantes da obra: ''Você acha que sabe tudo sobre o sexo. O ingrediente secreto para o sexo é o amor...''. Que se contradiz com toda nossa forma cultural de lidarmos com a sexualidade, e ainda mais se for partido da mulher. Lembra que comentei dela fazer apostas sexuais num trem? Seria de um absurdismo, apesar de sabermos que é comum, gigantesco se a história fosse com um homem. Talvez o absurdo se apagaria pelo fato de já ser comum atitudes dessas serem deploráveis com homens, mas porque nos parece tão absurdo se a protagonista desses atos é uma mulher? Assim como é incomodante pra muito gente ainda simplesmente ver mulheres falando sobre sexo. Um taboo fortemente incoerente sustentado por muita gente ainda.
E o fim do filme se segue com inúmeras aventuras sexuais da personagem, até que em uma noite ela diz que não conseguia sentir mais sua vagina, e caí no desespero e num choro amargurado nos últimos segundos de filme.
Com um final seco, cru, forte e intenso, temos ai o fim do Ninfomaníaca 1. E mais uma vez, outra obra-prima de Von Trier que nunca deverá ser esquecida por ser tecnicamente impecável, e por tocar em feridas nunca dantes tocadas em filme de maneira tão sincera e única. UM FILMAÇO!
nota: 9,5 /10
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