Ondas do Destino(1996)- Crítica
Meu
texto sobre o filme Ondas do Destino(Breaking the Waves)de 1996.
E
cá estou novamente, e dessa vez com um novo texto pra provar que Lars Von Trier
é um dos melhores diretores quando intenciona seus filmes para uma espécie de
poesia da crueldade da vida.
Talvez
um dos únicos filmes do Von Trier onde eles nos brinda com uma narrativa cru o
tempo todo e nos dá um desfecho em aberto que é simplesmente incrível(não terá
esse spoiler no texto). Nos seguimos a trama com nossa personagem chamada Bess,
que possuindo uma leve deficiência mental, está para se casar com quem sempre
foi intensamente apaixonada: Jan, um trabalhador dos campos de petróleo da
cidade.
E
sendo uma cidade pequena e afastada(no que parece ser o sul da Escócia) Von
Trier não nos poupa das suas críticas ácidas em relação as morais e normas que
a religião cristã tem naquela cidade, e, principalmente, na vida de Bess que
reza todas as manhãs naquela igreja.
Devota
e inocente, Bess pouco percebe as nuances da rejeição que os cidadãos tem em relação
ao seu noivo, por ele ser um ''forasteiro''.
E
aqui, veementemente falo e repito: temos a melhor atuação de Emily Watson e
talvez uma das melhores do século 20! Ela consegue entregar com maestria uma
personagem com um olhar inocente, doce, curioso; um sorriso amável, (tudo!) é
simplesmente hipnotizante as cenas, e a direção sempre preza esses momentos e
confia fortemente na atriz deixando sempre em planos fechados as cenas que
possuem alguma tensão.
E
detalhe aqui também para a cena em que ela está numa igreja de joelhos, e no
meio em seus devaneios de sua vida e suas rezas, ela responde a si mesma suas
perguntas fazendo uma voz mais grossa(supostamente encarnando Deus a
respondendo). Uma cena cru, silenciosa e simplesmente magnífica.
Mas
o filme também segue seu próprio ritmo. Simplesmente aprecie e mergulhe nas
críticas, personagens, momentos e ideias. E como na minha experiência já pronto
com a filmografia de Lars, temos aqui nessa obra um seguimento de um conflito
onde nossa protagonista lida com o sexo de uma forma incomum e diferente. Após
perder a virgindade com seu marido Jan, ela começa a ver o sexo como uma forma
de 'escape' para algo que nem mesmo ela consegue conceber direito em suas
palavras. E infelizmente onde nós telespectadores queríamos esperar uma
elevação de prazeres e satisfação na vida de Bess, essa descoberta sexual a faz
entrar em um declínio mórbido e destrutor.
E
como se isso já não nos bastasse enquanto telespectadores mergulhados e
fascinados com nossa protagonista, vemos no fim do primeiro ato ela descobrindo
que seu marido sofreu um acidente em seu trabalho na cidade vizinha, tendo
agora ficar internado em estado crítico.
É
doloroso vermos o quão negativo e autoflagelante são as formas com que Bess
começa a lidar com essa nova fase em sua vida. Mesmo sempre ouvindo comentários
maldosos e bobagens sobre sua vida e seu marido, ''decide'' então aceitar que
há um problema e que 'esse Deus' pode tirar a vida dele quando quiser quando o
mesmo a deu. E há uma cena em que toda essa ideia da cabeça de Bess é
construído, sem cortes, plano fechado no rosto da protagonista nesse
''diálogo'' entre ela e Deus(ela mesma) na igreja. Que é (mais uma vez)
SENSACIONAL.
E
mesmo com a desesperança de que seu marido vai se recuperar em breve(ideia essa
que ela mesmo apunhá-la quando a vem a mente), recebe uma sugestão de seu
marido estranha demais: que faça sexo com outros conhecidos ou desconhecidos
que ela confie, para que tal prazer ela que descobriu não faça falta. Tudo pelo
bem dela.(Talvez aí uma ideia não muito bem construída de 'relacionamento
aberto', talvez).
E a
cada capítulo que se passa no filme(esses divididos como seguimentos de um
livro, com uma música incrível e cenas estáticas de regiões da Escócia), se
torna ainda mais sufocante essa luta de Bess pela esperança de simplesmente
viver sua vida. E se você achou que a vida de Bess estava para um declínio, só
espere pelo terceiro ato. Há simplesmente um peso dramático em tudo: atuações
se tornam mais quentes, os olhares, os diálogos, as cenas, os enquadramentos, a
crueza da câmera e seus movimentos, os silêncios, etc.
Uma
obra-prima de Von Trier, simplesmente apaixonante, um final de brilhar os olhos
para os abatidos e uma das mais belas e mórbidas poesias cinematográficas já
feitas.nota: 10 /10
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