The Babadook(2014)- Crítica
Meu
texto+análise sobre The Babadook(2014) e as paranoias de quem ainda não aceita
um filme não convencional por motivos banais.
Eu
considero The Babadook um estopim maravilhoso para essa nova Era que muitos
críticos andam chamando de ''pós-terror'', regrados com detalhes como:
subversão de clichês do gênero, uma profundida de roteiro maior e densa, sem
uso de 'jumpscares' baratos para sustentar seu público, possibilidade de vários
subtextos e interpretações e com um ritmo único, que mais uma vez, pode não
agradar o público de maneira fácil. Grandes e ótimos exemplos dos últimos anos
são: Corra!, It Follows, Ao Cair da Noite, Raw, A Bruxa, Goodnight Moomy, e é
claro, The Babadook.
Dirigido
pela Jennifer Kent, o filme segue um modelo narrativo não muito fora do comum
de início. Acompanhamos a vida de uma mãe e um filho numa forma
''cotidianesca'' e desenvolvendo seus problemas internos que parecem não
enfrentar de maneira fácil todos os dias. A criança(que por sua vez atua muito
bem) é muito hiperativo, sempre com dificuldades de se relacionar com outras
crianças devido a sua agressividade e suas atitudes 'anárquica-passiva', que
inclusive se espelha um pouco com a personagem da mãe. Os dois parecem ser
muito afastados de outros membros da família, muito devido ao seu filho
problemático e a solidão angustiante e quase secreta que a mãe tenta esconder.
Numa noite qualquer, o filho apresenta a mãe um livrinho ilustrado do qual
parece nunca ter visto pelo quarto do filho. Ela então inicia a leitura para o
filho, e percebe que o livro aparentava ser infantil, mas as ilustrações eram
assustadoras e tinham um teor linguístico pesado mesmo que o livro quisesse
seguir uma linha de terror para crianças(se é que pode ser comum encontrar
isso).
A
mãe se sente cada vez mais incomodada, inquietante e apavorada com o que lia
das falas do único personagem ali, o Babadook. E, seguindo uma das
interpretações mais válidas do subtexto do filme que comentarei já já, era como
se o livro tocasse no pessoal da personagem da mãe. Vemos um peso carregado em
seu medo de estar lendo e vendo àquelas ilustrações, na atuação INCRÍVEL da
mãe(interpretada pela belíssima Essie Davis). A mãe e o filho dão um verdadeiro
show de atuação ao carregarem o filme praticamente sozinhos.
A
fotografia e paleta de cores se firmam muito bem no acinzentado e azul. Há
muito azul aqui, para reforçar a ideia de tristeza e melancolia que a
personagem da mãe se encontra. Há inúmeras cenas de resgatam uma informação no
qual nunca foi exposta da maneira convencional e escrachada para o público, mas
que a gente obviamente já tinha subentendido até ali, que é o fato da mãe não
estar lidado de maneira completa com a morte de seu marido no passado, com
inúmeras cenas do desconforto da mesma quando via casais se beijando na rua, em
programas de TV,etc. Mas nada novelesco, é tudo muito sútil e intimista.
E o
filme segue uma incessante jornada paranoica da mãe em relação a seu filho, ao
achar que o mesmo possa estar possuído por algo, e principalmente ao livro, no
qual resolve se livrar algumas vezes. As cenas assustadoras seguem um padrão
diferente do comum. Se com James Wan temos a aparição do horror com o som
estourado no talo ao mesmo tempo e de forma barata, aqui temos os elementos
muito bem trabalhados sozinhos e á sua forma. As inusitadas aparições do
bizarro criam uma sensação de ''é uma paranoia dela ou aquilo está ali???'' de
maneira sensacional graças a atuação da atriz, fotografia, direção e montagem
que se alinham perfeitamente para o elemento, e de forma silenciosa. O som não
fica de fora, há momentos em que apenas os barulhos dão muito medo.
Principalmente a famosa cena do cobertor no rosto. O filme não precisa te criar
uma situação de expectativa, daí o silêncio e o pequeno atraso da mistura
barata de som e imagem pra botar medo em quem assiste(''medo''). Ele segue sua
própria fórmula, e com maestria.
Ao
término dessa obra-prima do pós-terror, eu senti a intenção das possibilidades
de várias interpretações. Pois o final não é totalmente conclusivo em relação
as dúvidas que vamos tendo ao decorrer da história. Poderia ser um resultado do
estresse da mãe em relação á sua vida e seu filho; poderia ser uma espécie de subversão
de ponto de vista, sendo tudo parte da imaginação agitada e insurgente do
filho; poderia ser o Babadook uma entidade criada a partir da negatividade da
personagem da mãe; poderia ser o Babadook o pai da família que voltou, mas da
sua forma; mas, a teoria mais sustentável devido aos simbolismos mais
presentes, é de ser uma alusão á depressão que a mãe sofrera.
Ao
não saber lidar com os problemas de sua vida, a morte do marido e a
problemática do filho, e o livro Babadook acabou se tornando uma metalinguagem
para tudo aquilo que ela sentia. Já que uma das frases mais pertinentes
escritas nele é: ''Logo vou tirar meu disfarce engraçado. Tome cuidado com o
que você ler...pois uma vez que você ver, vai desejar estar morto''. Uma clara
metáfora a como a depressão ataca: ela é disfarçada por sentimentos reprimidos,
silenciosos e aparentemente indolores, numa forma de disfarce. Mas o
flagelamento de quem sofre com esse monstro, pode levar a supostamente única
solução final pra aquilo tudo: a morte.
Ah,
e a cena de ''possessão'' da mãe com o filho no sótão é uma das cenas mais
assustadores que eu já vi na minha vida.
UMA
OBRA-PRIMA DO TERROR MODERNO, ASSISTAM!
nota: 9,5 /10
nota: 9,5 /10
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